Por de trás do amor...



Hoje, acordei de forma repentina. Tinha acabado de acordar de um pesadelo, como o costume…
Passei a mão pela testa, para limpar aquele suor. Saí da cama, e enfiei os meus pés nos chinelos. Fui a rastejar até à cozinha, esfregando as mãos nos olhos. Decidi ir comer qualquer coisa… Abri a porta da prateleira das bolachas, e tirei o pacote. Sento-me na mesa, coloco no canal das notícias.
“ (…) um homem, de 42 anos, embateu o seu veículo num camião, no qual provocou um ferido grave, que se encontra em coma nos Hospital (…) ”
De repente, fui interrompido pelo toque do meu telemóvel… Alguém me estava a ligar. Atendi.
- Quem fala? – Disse eu, ainda meio ensonado.
- É a mãe… O teu pai está no hospital, teve um acidente, foi contra um camião. Quando puderes, anda ter ao hospital.
- O quê?! É ele o ferido grave, que deu agora nas notícias? Vou-me vestir, e já vou. – Atirei o telemóvel para cima da mesa, fui-me vestir, e deixei a minha mãe a falar sozinha.
Vesti-me, com a maior das pressas. Peguei no carro, e tentei ser o mais rápido possível, para chegar ao Hospital. Era tanto o trânsito, era hora de ponta, gente a ir para o trabalho… O que eu queria mesmo, era despachar-me!
Cheguei, estacionei o carro fora dos limites, e entrei a correr lá para dentro, à procura da minha mãe, para ela me explicar como estava o meu pai.
- João, aqui! – Chamou a minha mãe.
- Ah, estás aqui… Que se passa? Como aconteceu? Como é que ele está?
- Calma, João… Temos de ter calma. Ele ia normal, a conduzir, e atravessou-se um camião à frente, num cruzamento, e o teu pai não teve tempo para travar. Ele está muito mal, mas temos de nos unir…
Naquele momento, as lágrimas escorreram pela minha cara abaixo, sentei-me, e a minha mãe abraçou-me. Foi tão forte aquele abraço, que sentia que também estava mal, mas não o transmitia pelos olhos, como eu.
- Familiares do doente José Silva? – Perguntou o médico.
- Aqui, aqui! Que se passa? – Disse a minha mãe.
- Venham comigo, é um assunto sério. – Disse o médico.
Levou-nos para uma sala, que era sóbria. Deu-nos duas cadeiras, e começou a explicar.
- O Sr. José Silva, infelizmente, está muito mal. O acidente provocou perfurações na caixa torácica. Vão para casa, é melhor, porque quando nós tivermos notícias, ligamos para a esposa. Suponho que seja você.
- Sim, sou eu… Eu vou a casa, e vou telefonar para o trabalho dele, a explicar o assunto. Qualquer coisa, ligue-me logo doutor! Por favor!
- Claro, esteja descansada…
Saímos dali, e fomos em direcção à empresa do meu pai, preferiu assim a minha mãe.
- Eu gostaria de falar com o Carlos, o patrão, se faz favor. É um assunto sério. – Disse a minha mãe à secretária.
A secretária ligou lá para a sala do Sr. Carlos, e disse-lhe que éramos nós, que era um assunto sério. Entramos.
- Sr. Carlos… - A minha mãe começou a chorar.
- Que se passa, Filipa? O José hoje está a faltar ao trabalho, mas passa-se alguma coisa? Que se passa, João?
- O meu pai… O meu pai, teve um acidente de carro, quando vinha para o trabalho. – Debrucei-me sobre a mesa, e tentei suportar as lágrimas, coisa que não consegui, e mais uma vez, escorreram-me pela face.
- Mas, como é que ele está? – Perguntou o patrão.
- O meu marido está no hospital, está muito mal… O doutor disse, que quando tivesse notícias, ligava-me para lá ir. Sinto-me tão mal, perante isto tudo… Desculpe-me, mas é melhor irmos.
- Claro, claro. Eu compreendo. As melhoras. Quando houver notícias, telefone-me, se faz favor.
- Está bem, Sr. Carlos. Obrigado pela compreensão.
Saímos da sala. Abracei-me à minha mãe, e disse-lhe ao ouvido: “Tem calma, vai tudo correr bem.”, tendo eu a noção, que era complicado ele ficar completamente bem…
Chegamos a casa, deitamo-nos no sofá. O nome do meu pai, já tinha sido transmitido na televisão, e comecei a receber mensagens, de força, para não me preocupar, que tudo ia correr bem. A minha mãe, estava de rastos… até que, o telemóvel toca, é um número qualquer fixo, ela atende.
- Sim, quem fala?
- É o Dr. Duarte. Precisamos de falar consigo… Venha apenas você.
- Claro, já estou a ir!
Não gostei, do facto de apenas ir a minha mãe, fiquei ainda mais preocupado.
As horas foram passando, e eu, sempre a andar para a frente e para trás pela casa, a tentar ligar à minha mãe, mas ela não me atendia.
Ouvi algum barulho da garagem, era a minha mãe… Tinha chegado.
Fui a correr, ter com ela, e ela disse-me para ir para a sala, que já ia lá ter. Sentei-me no sofá, e ela chegou… A chorar, já não conseguia nem sequer falar.
- João… O teu pai… O teu pai… Ele… Ele, fal… faleceu.
Eu, ao ouvir aquelas, palavras, agarrei-me a ela, com todas as minhas forças. Agora, tínhamos de nos unir ainda mais, éramos apenas dois… Tornei-me, infelizmente, o homem da casa.
Passou a noite… Mais um dia, e a noite… Não dormi nada nestes dias, só relembrando memórias nestes 21 anos de vida com o meu pai.
Chegou o dia da triste cerimónia… Apoiei a minha mãe, mais que ninguém. Por vezes, mostrei-lhe um sorriso, falso, mas era para ela sorrir, também, apesar da fase… Recebemos todos os sentimentos, todas as forças. A minha mãe, antes de eles colocarem o caixão, atirou uma rosa vermelha, que ia junto com um papel que dizia “Até um dia, Homem da minha vida. Amo-te eternamente, José Carlos Pinheiro da Silva.”
Agarrei-a, e fomos para casa… Nessa mesma noite, mal comemos. Fomos dormir, e, no dia seguinte, a minha mãe acordou, e estava escrito, no outro lado da almofada: “Filipa, eu por ti faço tudo… Sei que não te estou a fazer feliz. Ontem, foi a última vez que me viste. O João, vai estar sempre para ti, vais ver. São muitos problemas, e eu estou farto. Força meu amor, eu amo-te.”
Era a mensagem… A mensagem que o meu pai tinha deixado no outro lado da almofada. Eu? Eu acordei, e estava escrito no tecto, de uma forma esborratada: “Eu amo-te filho, sê forte, e faz quem te rodeie, que o seja também”.
Não fiz mais nada. Deixei-me ali estar… Afinal, todos precisávamos de descansar.

“Pai, eu amo-te. Um dia, continuamos a nossa vida… Olha sempre por mim, e pela mãe. És essencial nesta casa… Até um dia, Pai!”

This entry was posted on domingo, 31 de julho de 2011. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. You can leave a response.

10 Responses to “Por de trás do amor...”

sof disse...

fizeste-me chorar. está mesmo lindo joão! e depois ainda falas de mim -.-
amei mesmo.

Anónimo disse...

Estou completamente sem palavras :o
Está perfeito João :o
AMEIIIIIIII !
/ Jéé

- disse...

Amei, amei, amei *-*

Andreia disse...

wtf? eu quase que chorei.
Tu despertas cada sensação nas pessoas, qualquer coisa como anormal. Onde as pessoas fazem colocar em extremos todos os seus sentimentos.
E eu nem sequer li com a música a tocar, imagina se a metesse a tocar :|
Escreves mesmo bem, escreves aliás, cada vez melhor.
Amo-te com tudo o que tenho, juro <3

Mónica* disse...

amei mesmo, está fantástico!

LA disse...

Que lindo *.*

Anónimo disse...

estou sem palavras o texto esta lindo! muito obrigadaaaa :) vou seguir

PB disse...

A verdade é que começas a deixar a tua própria marca naquilo que escreves e basta ler para saber que foste tu que escreveste, que foste tu a pôr tudo o quanto vai aí dentro, na tua cabeça, no teu coração. Descreves tudo de forma a que basta ler para imaginar a cena toda, o desenvolvimento da história e o seu fim, o drama vivido, a dor sofrida, a intensidade das relações e por isso tenho que dar-te mais uma vez os parabéns, meu bem. Está clara a tua evolução.
Posto isto, tenho que dizer que gostei bastante e que a música é linda! :')
Eu adoro-te, meu anjo. <3

Anónimo disse...

Está lindo!

João Tomás disse...

ainda bem (: