Archive for julho 2011

Por de trás do amor...

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Hoje, acordei de forma repentina. Tinha acabado de acordar de um pesadelo, como o costume…
Passei a mão pela testa, para limpar aquele suor. Saí da cama, e enfiei os meus pés nos chinelos. Fui a rastejar até à cozinha, esfregando as mãos nos olhos. Decidi ir comer qualquer coisa… Abri a porta da prateleira das bolachas, e tirei o pacote. Sento-me na mesa, coloco no canal das notícias.
“ (…) um homem, de 42 anos, embateu o seu veículo num camião, no qual provocou um ferido grave, que se encontra em coma nos Hospital (…) ”
De repente, fui interrompido pelo toque do meu telemóvel… Alguém me estava a ligar. Atendi.
- Quem fala? – Disse eu, ainda meio ensonado.
- É a mãe… O teu pai está no hospital, teve um acidente, foi contra um camião. Quando puderes, anda ter ao hospital.
- O quê?! É ele o ferido grave, que deu agora nas notícias? Vou-me vestir, e já vou. – Atirei o telemóvel para cima da mesa, fui-me vestir, e deixei a minha mãe a falar sozinha.
Vesti-me, com a maior das pressas. Peguei no carro, e tentei ser o mais rápido possível, para chegar ao Hospital. Era tanto o trânsito, era hora de ponta, gente a ir para o trabalho… O que eu queria mesmo, era despachar-me!
Cheguei, estacionei o carro fora dos limites, e entrei a correr lá para dentro, à procura da minha mãe, para ela me explicar como estava o meu pai.
- João, aqui! – Chamou a minha mãe.
- Ah, estás aqui… Que se passa? Como aconteceu? Como é que ele está?
- Calma, João… Temos de ter calma. Ele ia normal, a conduzir, e atravessou-se um camião à frente, num cruzamento, e o teu pai não teve tempo para travar. Ele está muito mal, mas temos de nos unir…
Naquele momento, as lágrimas escorreram pela minha cara abaixo, sentei-me, e a minha mãe abraçou-me. Foi tão forte aquele abraço, que sentia que também estava mal, mas não o transmitia pelos olhos, como eu.
- Familiares do doente José Silva? – Perguntou o médico.
- Aqui, aqui! Que se passa? – Disse a minha mãe.
- Venham comigo, é um assunto sério. – Disse o médico.
Levou-nos para uma sala, que era sóbria. Deu-nos duas cadeiras, e começou a explicar.
- O Sr. José Silva, infelizmente, está muito mal. O acidente provocou perfurações na caixa torácica. Vão para casa, é melhor, porque quando nós tivermos notícias, ligamos para a esposa. Suponho que seja você.
- Sim, sou eu… Eu vou a casa, e vou telefonar para o trabalho dele, a explicar o assunto. Qualquer coisa, ligue-me logo doutor! Por favor!
- Claro, esteja descansada…
Saímos dali, e fomos em direcção à empresa do meu pai, preferiu assim a minha mãe.
- Eu gostaria de falar com o Carlos, o patrão, se faz favor. É um assunto sério. – Disse a minha mãe à secretária.
A secretária ligou lá para a sala do Sr. Carlos, e disse-lhe que éramos nós, que era um assunto sério. Entramos.
- Sr. Carlos… - A minha mãe começou a chorar.
- Que se passa, Filipa? O José hoje está a faltar ao trabalho, mas passa-se alguma coisa? Que se passa, João?
- O meu pai… O meu pai, teve um acidente de carro, quando vinha para o trabalho. – Debrucei-me sobre a mesa, e tentei suportar as lágrimas, coisa que não consegui, e mais uma vez, escorreram-me pela face.
- Mas, como é que ele está? – Perguntou o patrão.
- O meu marido está no hospital, está muito mal… O doutor disse, que quando tivesse notícias, ligava-me para lá ir. Sinto-me tão mal, perante isto tudo… Desculpe-me, mas é melhor irmos.
- Claro, claro. Eu compreendo. As melhoras. Quando houver notícias, telefone-me, se faz favor.
- Está bem, Sr. Carlos. Obrigado pela compreensão.
Saímos da sala. Abracei-me à minha mãe, e disse-lhe ao ouvido: “Tem calma, vai tudo correr bem.”, tendo eu a noção, que era complicado ele ficar completamente bem…
Chegamos a casa, deitamo-nos no sofá. O nome do meu pai, já tinha sido transmitido na televisão, e comecei a receber mensagens, de força, para não me preocupar, que tudo ia correr bem. A minha mãe, estava de rastos… até que, o telemóvel toca, é um número qualquer fixo, ela atende.
- Sim, quem fala?
- É o Dr. Duarte. Precisamos de falar consigo… Venha apenas você.
- Claro, já estou a ir!
Não gostei, do facto de apenas ir a minha mãe, fiquei ainda mais preocupado.
As horas foram passando, e eu, sempre a andar para a frente e para trás pela casa, a tentar ligar à minha mãe, mas ela não me atendia.
Ouvi algum barulho da garagem, era a minha mãe… Tinha chegado.
Fui a correr, ter com ela, e ela disse-me para ir para a sala, que já ia lá ter. Sentei-me no sofá, e ela chegou… A chorar, já não conseguia nem sequer falar.
- João… O teu pai… O teu pai… Ele… Ele, fal… faleceu.
Eu, ao ouvir aquelas, palavras, agarrei-me a ela, com todas as minhas forças. Agora, tínhamos de nos unir ainda mais, éramos apenas dois… Tornei-me, infelizmente, o homem da casa.
Passou a noite… Mais um dia, e a noite… Não dormi nada nestes dias, só relembrando memórias nestes 21 anos de vida com o meu pai.
Chegou o dia da triste cerimónia… Apoiei a minha mãe, mais que ninguém. Por vezes, mostrei-lhe um sorriso, falso, mas era para ela sorrir, também, apesar da fase… Recebemos todos os sentimentos, todas as forças. A minha mãe, antes de eles colocarem o caixão, atirou uma rosa vermelha, que ia junto com um papel que dizia “Até um dia, Homem da minha vida. Amo-te eternamente, José Carlos Pinheiro da Silva.”
Agarrei-a, e fomos para casa… Nessa mesma noite, mal comemos. Fomos dormir, e, no dia seguinte, a minha mãe acordou, e estava escrito, no outro lado da almofada: “Filipa, eu por ti faço tudo… Sei que não te estou a fazer feliz. Ontem, foi a última vez que me viste. O João, vai estar sempre para ti, vais ver. São muitos problemas, e eu estou farto. Força meu amor, eu amo-te.”
Era a mensagem… A mensagem que o meu pai tinha deixado no outro lado da almofada. Eu? Eu acordei, e estava escrito no tecto, de uma forma esborratada: “Eu amo-te filho, sê forte, e faz quem te rodeie, que o seja também”.
Não fiz mais nada. Deixei-me ali estar… Afinal, todos precisávamos de descansar.

“Pai, eu amo-te. Um dia, continuamos a nossa vida… Olha sempre por mim, e pela mãe. És essencial nesta casa… Até um dia, Pai!”

"Amanhã quero ser invisível, para toda a gente"

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Hoje, deitei-me na cama, estava cansado do dia… Apesar de estar de férias, também me canso. Tinha sido muito divertido, mas ao mesmo tempo, muito cansativo. Deitei-me, e não consegui dormir. Levantei-me, abri a persiana do meu quarto, e pus-me a olhar para as estrelas. Reparei que umas brilhavam mais que outras, pensem que fossem a importância que elas tivessem para mim, mas achei ridícula a ideia. Peguei num papel, e escrevi: “Tenho um desejo: Amanhã quero ser invisível, para toda a gente” Pensei que Deus me desse atenção, no mínimo, naquela noite, e no dia a seguir. O passado não tinha sido muito confortável, problemas em todo o lado, quer na amizade, quer na família, até acho que já não sei sem um bom amigo, mas adiante… Fui dormir, pareceu-me de imediato que era desta que eu adormecia. Encostei a cabeça na almofada, virei-me para um lado, e… puff, adormeci.
Chegou um novo dia, levantei-me por volta das 10h30 e fui até à cozinha, e deparei-me que todos já estavam a tomar o pequeno-almoço. Achei estranho não me virem acordar, porque afinal, também faço parte da família, apesar de muitos problemas que hajam. Estavam ás gargalhadas, o que ainda achei mais estranho… Sentei-me, e ninguém me disse um “Bom Dia" ou o que quer que seja, enfim, ignoraram-me. Fui comendo, fui bebendo o leite que já estava meio frio, mas também, não estava com apetite de me levantar, e então, assim o bebi. Caiu-me mal, mas que se lixe… O apetite de viver, já não é muito. Levantei-me… A minha mãe, nem sequer perguntou se eu tinha gostado, mas pronto, *aguei.
Fui fazer a minha cama, outra coisa que não é normal. No momento que peguei na almofada, para coloca-la no armário, vejo um papel amachucado. Lembrei-me! Era o papel que eu tinha escrito ontem… “Será que foi por isso que não me falam? Será que é por isso que ninguém me dá os bons dias?”, foram algumas das perguntas que me surgiram pela cabeça. Porra, aleijei-me na cama, trilhei o dedo. Gritei, a pedir ajuda, porque aquilo estava roxo, e ao mesmo tempo, o sangue escorria mais. Ninguém me acudiu. “Mas afinal, eu existo?”, outra pergunta que girou por completo a minha cabeça, que mais parecia um livro de perguntas sem respostas.
Parecia que me tinham trocado pelo Xico, o cão de lá da casa, que até o prato deles meteram no chão para o cão comer, por amor de deus. Parece que o desejo, estava mesmo concretizado, até mesmo eu achar estúpido, mas era o que eu tinha pedido, assim tinha de aguentar com as consequências. Saí á rua, estava farto daquela casa.
Surgiu-me várias coisas na cabeça… “Roubar? Fugir? Matar?”
Tanta coisa que passou pela minha cabeça, que o que decidi foi mesmo fugir, desaparecer… Passei o dia a caminhar, com os meus phones nos ouvidos, e a caminhar por avenidas e ruelas desconhecidas. Chegou o fim do dia, começou a escurecer. Não sabia onde ficar… Encontrei uma barraca ali no meio, e decidi ficar ali, mesmo com um pouco de medo do que pudesse acontecer. Os grilos eram irritantes, apetecia-me matá-los um a um, porra, que nervos. Lá adormeci, enrolado nuns cobertores todos esburacados que ali estavam… A almofada? Era a minha camisola enroscada.
Chegou um novo dia.
- Quem és tu?
Um velho, e pobre velho que pareceu-me que também ali morava, questionou-me ao que eu lhe respondi, com medo:
- Sou… Sou… Sou o Henrique. Desculpe estar aqui, mas é que eu anteontem, pedi um desejo, mas ao vive-lo, detestei. Era ficar invisível… E hoje, parece que estou em carne e osso. Vou voltar p'ra casa, talvez estejam preocupados comigo.
Pouco falamos, mas decidi logo vir embora, parecia meio bêbado. Cheguei a casa, todo sujo… Todos (sim, todos!), estavam preocupados comigo. Perguntaram-me onde tinha dormido na outra noite passada, onde andei, e porque é que só cheguei hoje. Expliquei-lhes aquilo, e eles riram-se na minha cara. Subi as escadas, fui para o meu quarto. Fechei-me lá. À noite, antes de me deitar, fui à janela, e escrevi num papel: “Arrependo-me de ter feito o que fiz. Por mais que a minha vida esteja mal, o ‘desaparecer’ não é a melhor opção. Prefiro continuar a viver.”

Viver, sempre é a melhor do que desaparecer, ou tornar-se invisível.
Por isso, vive como se hoje, fosse o teu último dia *

MRP

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Por ti, por tudo o que me ensinaste, por tudo o que
já vivemos - ainda que em sonhos - por tudo o que 
aprendi a ser contigo, por ti, eu apanho as estrelas que for preciso.
Margarida Rebelo Pinto

Actos Involuntários

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Sofia, era a melhor amiga de João. João tinha vinte e um anos, e Sofia, tinha apenas mais um do que ele. Era uma amizade virtual de ano, mas era uma amizade forte, que ultrapassava tudo e todos. João, perdeu a sua mãe num acidente de viação, e mais tarde, o seu pai faleceu devido a um enfarte. Estava farto da vida que tinha, de perder as pessoas que mais amava… Passou a viver com a sua madrinha, que tentou ser o mais maternal possível. Um dia, ele, farto de perder as pessoas que mais amava, colocou na sua mochila três pares de calças, três camisolas e roupa interior, e saiu de casa. Correu até à estação, para apanhar o comboio. Não tinha para onde ir, tinha apenas uns trocos, que só dava para uma ida sem volta, caso quisesse voltar. O comboio chegou, ele entrou, e sentou-se no banco do fundo da carruagem. Colocou os seus fones, e começou a refugiar-se na música.
- Boa Tarde. Para onde é o que o jovem vai? – Disse o cobrador.
- Para o fim do mundo… Quanto é? – Respondeu ele, triste.
- Desculpa? Está tudo bem?
- Sim, deve estar. Vou para Esmeriz, diga-me quanto é, para ver se tenho o dinheiro suficiente. – Abrindo a carteira, e contando os trocos.
- Jovem, não desanimes. Por qualquer coisa que tenha acontecido, tens a minha força. Não é nada… Boa Viagem.
- Obrigado. – Respondeu ele, de forma agradecida, colocando um falso sorriso nos lábios.
O comboio chegou à estação de Esmeriz, pertencente a Famalicão. O João saiu, e sentou-se nos bancos da paragem. Olhou para o telemóvel, marcava 11h43. Esmeriz, era a cidade onde a sua melhor amiga vivia, juntamente com os seus pais, talvez o pudessem abrigar, pensou ele.
Sofia, tinha-lhe falado por alto, onde vivia. Que era perto de um Super Mercado, que havia uma grande subida a pique perto de sua casa, e que vivia na porta 57, no 1º andar esquerdo. Ele, correu ruas e avenidas, passou por entre matos e ruelas, para encontrar um bom porto de abrigo… Chegou o fim do dia, ele sem comer, a chuva a cair, e ele sem encontrar a casa de Sofia. Embrulhou umas calças com umas camisolas, e fez aquilo como seu colchão, e dormiu, inconsoladamente, mas dormiu.
O nascer do sol, brilhou nos olhos de João, o que o fez acordar bem de manhã. Foi em busca da sua melhor amiga, que por algures ali vivia, até que…
- Sofia? – Perguntou ele, envergonhado.
- João, és tu? Estás aqui? Passou-se alguma coisa? – Perguntou ela, preocupada.
- Saí de casa… Estou farto da minha vida, e tu, és a única pessoa que me pode ajudar… Pensei em ti, para me dares um abrigo.
- Claro, claro! Anda, é por aqui a minha casa.
Conduziu-o a sua casa, e falou com os seus pais, para o deixarem lá ficar por poucos dias, que o aceitaram.
Passaram alguns dias, cada vez estavam mais próximos, pareciam mesmo namorados. Uma tarde, em que Sofia lhe mostrava os seus perfis no computador, e alguns textos da sua autoria que revelavam um sentimento por um rapaz, rolou um beijo. Aquele beijo, expressou tudo entre eles… Foi único. O tempo foi passando, e decidiram assumir uma relação, tentar fazerem-se feliz um ao outro.
Um dia, João chegou a casa um pouco bêbado, e já dormia na mesma cama que Sofia. Entrou em casa com uma garrafa de cerveja na mão, e já com os seus passos todos trocados. Ao deitar-se, a cheirar a vinho, num último golo como ceia, deixou cair a garrafa, que acabou por partir, e ficar em cacos. Sofia acordou sobressaltada, e questionou-lhe o porquê de ele estar assim, e com aquele desagradável cheiro. Ele, não estando nele, pegou num caco da garrafa, e virou-se a Sofia, que acabou por fazer um corte na barriga dela. Ela, tinha de ir para o hospital, num estado de urgência, e ele, após o acto que a feriu, disse: “Morre.”.
Ele, não estava nele, não tinha atenção no que dizia… Sofia ficou sentida com aquela palavra que a abalou, e começou a chorar. A mãe dela, acabou por acordar, depois do grito dela, que significou uma verdadeira dor. Sofia, ficou internada nessa noite. Parecia dar bons resultados, logo, estar fora de perigo. João, acordou na manhã seguinte, e não tinha noção do que tinha feito, e foi falar com o pai dela, que estava na sala, com o telemóvel ao seu lado, pronto para receber notícias da sua filha. João, após saber o que tinha feito, dirigiu-se para o hospital para visitar a sua namorada, até que a mãe dela recusou a entrada dele no quarto. Passaram dias, e João decidiu dormir na rua, pois assim não sofria ainda mais ao ver a Sofia e a sua família. Ele decidiu tratar-se, para isso, dirigiu-se a uma clínica de Alcoólicos Anónimos, para falar do seu problema. Já numa sessão, eis a vez de ele contar a sua história.
- Eu… Eu sou o João. Decidi fugir de casa, porque a minha mãe faleceu num acidente de viação, e o meu pai, infelizmente, faleceu também, mas com um enfarte. Decidi procurar ajuda, de alguém que realmente me amasse…
Enquanto João se apresentava na sessão, e contava a sua história, Sofia, procurava-o… Ela queria saber dele, como ele estava, onde estava. Pensou, e como ela o conhecia tão bem, lembrou-se que ele talvez tivesse ido a uma clínica de AA, com o objectivo de se tratar.
Sofia, percorreu todas as salas de sessões de AA, até que…
- Eu sei que sou um burro por a ter feito sofrer, por ela andar tão mal… Fui pu-la num hospital… Teve probabilidades de estar às portas da morte por minha causa, por eu ter bebido, o que não devia ter feito. Eu amo-a tanto, seria incapaz de fazer isto, mas…
Sofia já estava à porta, a ouvir o que João dizia.
- João, esquece isso. Eu também te amo, acredita!
Ele olhou para trás, ouviu a voz e foi abraça-la.
- Cuidado… - Disse ela, quando ele lhe tocou na barriga.
- Tens razão, desculpa.
Mais um abraço, e… um beijo.
Saíram dali… Foram correr na praia, rebolaram na areia, atiraram água um ao outro, e passaram lá a noite…

FIM

Por vezes, por certos erros que cometemos, mesmo que sejam involuntários, pudemos nos sair mal no fim. O João, por acaso, teve sorte porque a Sofia amava-o de verdade, e conseguiu percebê-lo. Agora tu, nunca se sabe… Age com cuidado.

Partidas da Vida

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Era um dia de chuva, o Marco de apenas 17 anos, apenas vivia com a sua mãe, decidiu ir passear para arejar a cabeça, depois da chatice que teve com a mãe. A sua mãe, Maria, tinha vários problemas cancerígenos, e andava sempre em tratamentos e no médico, mais uma razão para o marco querer ir arejar as ideias. Nesse mesmo dia, que Marco saiu de casa para ir arejar, a sua mãe, tinha uma consulta marcada para as 15h da tarde, e assim compareceu. Maria entrou, sentiu-se mal… As enfermeiras acudiram-na de uma forma preocupada, e descobriram o que ela tinha, era uma notícia má, muito má.

Chegou a hora do jantar, Marco jantou sozinho, sem dar falta pela sua mãe. No dia seguinte, a cama de Maria, estava intacta, almofada no sítio, cobertores arrumados, tudo intacto. Marco, começou-se a preocupar, e ligou para o hospital. A resposta da recepcionista, foi simples: “Vem cá, a tua mãe, a partir de hoje, precisará de ti, como nunca antes precisou… Vem com calma. Assim te esperamos.”. Marco chegou, o mais rápido que pôde, e soube da triste notícia… A sua mãe tem (mais) uma doença, de Alzheimer. No momento que a doutora lhe disse aquilo, ele apenas deixou-se escorrer pela parede no qual estava encostado, ficando assim, de joelhos no chão. Levou a sua mãe para casa, ainda um pouco inconsciente do acontecimento, e deitou-a na cama, pousando, cuidadosamente a sua cabeça na almofada. Dirigiu-se para o quarto, e começou a escrever:

“Mãe.. Mesmo que um dia não te lembres de quem sou, eu vou estar cá… Mesmo que me trates como um desconhecido, eu vou te dar o devido valor que não te dei, e vou-te compreender, e vou estar cá… Um dia, mais tarde, quando me perguntares «Quem és tu?», eu apenas vou sorrir, e abraçar-te. És a minha vida, jamais te esquecerei. Amo-t...”.

Não acabou de escrever o texto, e foi ver como estava a sua mãe. Não se encontrava muito bem, e decidiu enviar uma mensagem para a sua tia mais próxima, talvez o pudesse ajudar. “Tia, sou eu, o Marco. A minha mãe tem Alzheimer, preciso de alguém aqui comigo, não consigo tratar de tudo sozinho… Como lhe ensinarei a comer? Como lhe ensinarei a escrever? Como lhe ensinarei a caminhar? Tudo isso, foi ela que me ensinou… Ajuda-me, por favor. Beijos.”. A tia não deu resposta, passado uma hora, tocaram à campainha da casa de Maria, era ela, a tia.
- Marco, tem calma… Tudo se vai resolver, eu estou cá para te apoiar no que precisares. E tu, és corajoso, vá, não fiques assim. Ergue essa cabeça… Já devias saber que, mais tarde ou mais cedo, isto podia acontecer. Foi a mesma coisa com a tua falecida avó.
- Tia, ter calma? Eu não aguento isto… É demais para mim. Não tenho força para tal, eu não sou capaz, eu não…
- Marco, vai para o teu quarto, que eu vou falar com a tua mãe, e depois falamos.

(Passaram alguns anos, Maria já tinha ultrapassado a doença, já sorria como uma criança e acima de tudo, recordava-se do seu filho, Marco.)

Maria, passou a viver sozinha, já tinha a sua vida normal, como antigamente. Marco, estava noivo. Casava-se em breve… Em arrumações que Maria fazia, preparando a festa em sua casa, encontrou um papel amachucado, na gaveta das meias de Marco, que era, nem mais nem menos, do que Marco tinha escrito quando soube da notícia da mãe. Maria, ao ler aquilo, começou a chorar, e ficou ainda com mais garra para tratar da cerimónia.

No dia da cerimónia, no “momento da verdade”, ambos aceitaram ficar juntos até ao fim das suas vidas. No almoço, Maria quis falar perante todos os convidados:

“Desculpem estar-vos a incomodar, mas eu tenho de agradecer e homenagear ma pessoa. Marco, meu filho, meu orgulho de viver, quero-te agradecer por tudo o que fizeste por mim, por todas as tentativas de ensinamento devido à minha doença, até aquele papel amachucado que estava na gaveta das tuas meias (risos). Desculpa-me por esta doença, por nunca te ter feito um criança feliz, por todas as brincadeiras que passamos, acima de tudo, por estares comigo ainda hoje! Amo-te meu filho.”.

As pessoas ergueram-se, e começaram a aplaudir as palavras daquela mãe, que já passou por tanto, e que ainda hoje, vive rijamente.

(Passaram dois meses após o casamento de Marco)

- Ela não merecia… Depois de tudo o que lutou para sobreviver? De todas as batalhas que se sagrou vitoriosa? Não é possível.

No dia do trágico funeral, Marco recebeu os sentimentos de todas as pessoas que tinham a amizade de Maria, sua falecida mãe, que ultrapassou muito para puder viver até ao dia de ontem.
Ao lado de Maria, dentro do caixão, encontrava-se uma rosa branca e outra vermelha, juntamente com o papel amachucado escrito por Marco. Tiraram os casacos pretos que todos levavam, e mostraram o que estava escrito na camisola: “Até Sempre, Maria!”, logo de seguida, largaram balões brancos, e bateram palmas.

A vida, infelizmente, prega-nos partidas, sobretudo,
quando menos esperamos.